terça-feira, 30 de novembro de 2004




Ontem sonhava eu com laranjeiras. Hoje, porém, para mim já não há paraísos. Já não creio na existência de laranjas.
Já não descubro, em mim, senão uma grande secura de coração. Vou cair e não sinto desespero algum.

A dor está ligada aos frémitos da vida.

O sol estancou em mim a fonte das lágrimas.

Não esquecem tal alimento os que uma vez o provaram.


Não me queixo de nada. Joguei e perdi. São ossos do ofício. Mas, apesar de tudo, sempre respirei o vento do mar.


Estavas atormentado por esse corpo exausto, ao qual davas oltas e mais voltas, sem conseguires pô-lo a dormir. Ele não esquecia os rochedos e as neves.

Nem mesmo terminaras a caminhada, arquejavas ainda e quando recaías sobre a almofada, em busca de sossego, uma irreprimível procissão de imagens que não podias deter, uma procissão que se impacientava nos bastidores, entrava logo em movimento no teu crânio. E desfilava. E vinte vezes voltavas ao combate contra inimigos que renasciam das cinzas.

O meu maior trabalho foi o de me impedir de pensar. Sofria muito, e a minha situação era extremamente desesperada. E não podia atentar nela, para não perder a coragem de andar. Infelizmente, eu controlava mal o cérebro, que trabalhava como uma turbina.


O que salva, é dar um passo. Mais um passo. Repete-se sempre o mesmo passo.

Ele sabe que, uma vez colhidos por um acontecimento, os homens já não se assustam. Só o desconhecido apavora os homens. Mas o desconhecido deixa de existir para todo aquele que o afronta.

Do fundo do abismo das noites difíceis, tantas vezes apeteceste a aparição dessa roseta pálida, dessa laridade que desponta a oriente, das terras negras. Algumas vezes, diante de ti, essa fonte miraculosa degelou-se devagar e salvou-te quando te julgavas perdido.

posted by saturnine | 23:30 | 0 Comentários


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//(0oº.)~*


— e então, que dizes?
— não.
— não? só isso?
— só isso.
— e o que é que falta afinal?
— olha, falta alguém que me pergunte todas as noites pelas estrelas, que se preocupe com a linguagem das árvores e com o silêncio do deserto, e para quem as palavras não sejam um peso morto na sustentação dos dias.
— ...
— ...
— mas isso...
— ... são coisas que não te interessam, naturalmente.

posted by saturnine | 23:29 | 0 Comentários


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a sério que fomos felizes #2


«Porquê? Por que razão, quando olhamos para trás, o que era bonito se torna quebradiço, revelando verdades amargas? (...)
Contudo, fomos felizes. Por vezes, quando o final é doloroso, a recordação trai a felicidade. Porque é que a felicidade só é verdadeira quando o é para sempre? Por que razão só pode ter um final doloroso quando já era doloroso, ainda que não tivéssemos consciência disso, ainda que o ignorássemos?


* * *


Será esta tristeza mais do que a tristeza pura? É ela que nos invade quando as boas recodações se tornam quebradiças ao vermos que aquela felicidade não se alimentava da situação de momento, mas antes de uma promessa que nunca se cumpriu?


* * *


Soneguei a Hannah. Sei que sonegar alguém é uma variação discreta da traição. Por fora, não é possível ver se se está a sonegar alguém, ou apenas a usar de discrição, a ser respeitador, a evitar situações delicadas e aborrecimentos. Mas aquele que sonega sabe muito bem o que está a fazer. E do mesmo modo, o sonegar é tão grave numa relação como outras formas mais espectaculares de traição.»



O Leitor
Bernhard Schlink




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será possível que nada se cumprisse? a mentira fajarda que vem depois, que arrasta consigo o lodo e o limo e tudo o que dói, porque se transforma ela no engano gigantesco que (afinal... - dizemos) nunca foi o amor? perpetuamente, perguntamos porquê. porque é que a mentira fajarda, que vem depois, transforma a felicidade em engano, equívoco, em memória atraiçoada? se, apesar de tudo, fomos felizes...

posted by saturnine | 22:27 | 0 Comentários


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Ulisses
ou a perpétua problemática do regresso


«Nesse tempo, voltei a ler A Odisseia, que lera pela primeira vez no liceu e que me ficara na memória como a história de um regresso. Mas não é a história de um regresso. Como poderiam os gregos, que sabiam que ninguém se banha duas vezes na mesma água de um rio, acreditar também no regresso? Ulisses nunca regressa para ficar, mas para partir de novo


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agora é incontornável. e eu sempre o soube.

posted by saturnine | 22:03 | 0 Comentários


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>>> portanto


à sua nona vida, um cão (perigoso) passa a ser gato. faz sentido.

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>>> períodos de céu muito nublado


no alto da serra esperamos, a qualquer momento, o regresso de D. Sebastião.

posted by saturnine | 20:11 | 0 Comentários


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And when I think of it, my fingers turn to fists
I never did anything to you, man
But no matter what I try
You'll beat me with your bitter lies

(but)

It won't be long 'till you'll be
Lying limp in your own hand

Fiona Apple



Há as músicas que nunca mais fui capaz de ouvir, as fotografias e as cartas e os bilhetes dos concertos relegados para o olvido no fundo do baú, os nomes que soneguei para, ao me parecerem estranhos, acreditar que os esquecera, os lugares onde nunca mais tive vontade de ir, e agora esta dúvida, o limbo, a corda bamba entre o embotamento e a ternura, quando se sabe que com um só sopro as torres de pedra caem. Por isso cravo as unhas na carne e continuo e não olho para trás e respiro o alívio de estar livre do teu peso morto e sei que há coisas que tardam, mas não falham.


posted by saturnine | 19:48 | 0 Comentários


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dos oásis


na serra, onde o frio domina o excesso de espaço, onde cada lugar é ao corpo doloroso, rolar até ao outro lado da cama para alcançar o aparelho de música, é como atravessar um oceano inteiro — ou um deserto — em busca de água para saciar a sede.

posted by saturnine | 19:43 | 0 Comentários


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intermezzo


o que eu gosto é disto: do som do lápis a riscar o papel no silêncio da noite, e destas semanas de dois dias.

posted by saturnine | 19:33 | 0 Comentários


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domingo, 28 de novembro de 2004




post suspenso:

eu vou, mas volto.

posted by saturnine | 18:46 | 0 Comentários


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aproveitar o dia


depois de se ter visto uma vez uma estrada a perder de vista no meio das planícies desertas, sob o sol abrasador de um céu despovoado, depois de se ter visto o nevoeiro a subir a serra e os cumes a tremer de frio e a noite escura a devorar o arvoredo, algo em nós toma parte no silêncio. é assim que, num irreprimível minimalismo de palavras, aprendemos a vastidão por dentro. aprendemos, não: sabemos.

posted by saturnine | 16:19 | 0 Comentários


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It's not even closing time
and already stars are falling from the sky






«Oriundos somos duma lava em fusão, duma massa de estrela, duma célula viva germinada por milagre, e a pouco e pouco nos fomos elevando até escrevermos cantatas e pesarmos vias lácteas.»

Terra dos Homens
Antoine de Saint-Exupéry

posted by saturnine | 15:33 | 0 Comentários


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da liberdade urgente, do apelo do deserto,
da vastidão por dentro:


I never saw a wild thing
sorry for itself.
A small bird will drop frozen dead from a bough
without ever having felt sorry for itself.

D. H. Lawrence




«Quando os patos bravos passam, na época das migrações, provocam curiosas marés nos territórios que dominam. Os patos domésticos, como que atraídos pelo grande voo trianular, dão princípio a um salto canhestro. O apelo selvagem veio despertar neles não sei que vestígio selvático. E lá temos os patos da quinta transormados por instantes em aves migradoras. (...)

O animal ignorava que o seu cérebro fosse suficientemente vasto para conter tantas maravilhas, mais ei-lo que bate as asas, despreza o grão, despreza os vermes e quer voltar a ser pato bravo.
Mas sobretudo revia as minhas gazelas: eu criei gazelas em Juby. Aí todos criámos gazelas. Encerrávamo-las, ao ar livre, num recinto de rede de arame porque as gazelas precisam de água corrente dos ventos e nada é tão frágil como elas. No entanto, apanhadas em pequeninas, lá vão vivendo e vêm tasquinhar à mão. Deixam-se afagar e mergulham o focinho húmido no fundo da palma da mão. Julgamo-las domesticadas. Julgamos tê-las posto a salvo do mal misterioso que extermina silenciosamente as gazelas dando-lhes a mais branda das mortes... Mas vem o dia em que as reencontrais de corninhos aplicados contra a vedação, na direcção do deserto. Estão enfeitiçadas. (...)

É a sazão dos amores, ou a simples necessidade dum grande galope de perder o fôlego? Elas não o sabem. Os seus olhos ainda se não haviam aberto quando vo-las apanharam. Ignoravam tudo, quer da liberdade das areias quer do odor do macho. Mas vós sois bem mais inteligentes que elas. O que elas buscam, vós o sabeis, é a vastidão que as completará. Querem torna-se gazelas e dançar a sua dança. A cento e trinta quilómetros hora, querem conhecer a fuga rectilínea, cortada de saltos bruscos, como se aqui e ali se escapassem labaredas de areia. (...)

A nostalgia é o anseio de não se sabe o quê... O objecto do anseio existe, mas não há palavras para o dizer.
E a nós o que é que nos falta?»



Terra dos Homens
Antoine de Saint-Exupéry


posted by saturnine | 13:48 | 0 Comentários


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sexta-feira, 26 de novembro de 2004




>>> tu, cujo coração é um deserto inóspito


«Como as térmitas, edificaste a tua paz à força de tapares com cimento todas as abertas para a luz. Enroscaste-te como uma bola na tua segurança burguesa, nas tuas rotinas, nos ritos sufocadores da tua vida de provinciano, e levantaste essa mísera muralha contra ventos, marés e estrelas. Não te queres inquietar com os grandes problemas. Bastante te custou a esquecer a tua condição humana. Não és habitante de uma planeta errante, não fazes a ti próprio perguntas sem resposta. Ninguém te agarrou pelos ombros enquanto era tempo. Agora, o barro de que és formado secou, endureceu, e doravante ninguém poderia despertar em ti o músico adormecido, o poeta, ou o astrónomo que de início talvez te habitassem.»


Terra dos Homens
Antoine de Saint-Exupéry




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ninguém te resgatou enquanto era tempo e agora do sonhador que talvez te habitasse no início já não há qualquer vestígio. eu, de unhas fincadas nas mãos, volto as costas. preciso dos homens que fazem a si grandes perguntas sem resposta.

posted by saturnine | 23:27 | 0 Comentários


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>>> o companheiro secreto (o dele)


Time has told me you're a rare rare find
A troubled cure for a troubled mind.


And time has told me not to ask for more
Someday our ocean will find its shore.


Nick Drake


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nunca um presente foi tão premonitório e eficaz (lento, como a massa do pão que é tendida, mas eficaz, e hoje sei-o). por isso não esqueço.

posted by saturnine | 22:24 | 0 Comentários


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>>> River Man


Brad Mehldau | Live in Tokyo

(o piano preenche todo o silêncio da noite)

posted by saturnine | 22:16 | 0 Comentários


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Ulisses


«E quando regressara fora sempre para tornar a partir.»

Terra dos Homens
Antoine de Saint-Exupéry




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Tu, Ulisses dos mil estratagemas, indigno da nossa espera, não podias regressar com o coração magoado, e mesmo assim nós esperámos, porque era esse o nosso ofício. e se vieste até à praia clara dessa ilha rochosa, não era para regressar, mas sim para para morrer.

posted by saturnine | 22:08 | 0 Comentários


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Penélope


«Não há dúvida, temos o hábito de esperar.»

Terra dos Homens
Antoine de Saint-Exupéry


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«O deserto sou eu.»


Mas a nossa plataforma terminava, em todas as direcções, numa arriba que, com pregas de cortinado, caía verticalmente no abismo. Qualquer evasão seria impossível.
E, contudo, antes de descolar em busca dum campo noutro ponto, ali me detive. Sentia um contentamente pueril talvez em imprimir os meus passos num território que nunca ninguém, homem ou bicho, maculara ainda. (...) Eu pisava a passos largos areia infinitamente virgem.
(...)



Perdido no deserto e ameaçado, abandonado, entre areia e estrelas, apartado os pólos da minha existência por demasiado silêncio.
(...)


E nós, no entanto, havíamos amado o deserto.
Se à primeira vista o deserto não passa de espaço vazio e silêncio, é porque ele não se entrega aos amantes de um só dia.
(...)


E que era o deserto para nós? Era aquilo que em nós nascia. Aquilo que aprendíamos a nosso respeito.
(...)


Nenhum liame, por mais ténue que seja, nos prenderá ao mundo até darmos com os olhos no fiozinho de luz do Nilo. Estamos fora de tudo e só o motor nos sutém no ar e nos faz subbsistir neste betume. Atravessamos o grande vale negro dos contos de fadas, o vale das provações. Aqui não há nenhum socorro. Aqui não há perdão nenhum para os erros. Estamos entregues ao juízo de Deus.
(...)



É inexplicável que estejamos vivos.
(...)


E descubro que no deserto não há abrigo algum. O deserto é liso como um mármore. Não forma qualquer sombra durante o dia e, à noite, entrega-vos ao vento completamente nus. Nennhuma árvore, nenhuma sebe, nenhuma pedra que me tivessem abrigado.
(...)




E contudo éramos infintamente pobres. Vento, areia e estrelas.»



Terra dos Homens
Antoine de Saint-Exupéry

posted by saturnine | 21:32 | 0 Comentários


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>>> notícias do arvoredo #2


a distância opera curiosas mudanças. sendo que se o corpo estala e se encolhe é do muito frio, ainda assim é inegável que se sofre muito de uma outra espécie de sede. volta o tempo dos cadernos, dos serões de caneta na mão enregelada, dos livros lentos como o correio nocturno para o fim do mundo. por uma questão de honestidade, resolvi avisar: durante os próximos dias este blog será inundado pelas notícias esquecidas das noites passadas.

posted by saturnine | 20:38 | 0 Comentários


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>>> notícias do arvoredo #1


no alto da terra, não há notícias do mundo. o próprio arvoredo, nove dias encerrado em espessos muros de bruma densa, onde tudo parece acabar dois passos à frente, vertido num abismo doce e branco. no regresso, quase não reconheço o sol inesperado a surgir-me entre os ramos despidos das árvores do caminho.

posted by saturnine | 20:09 | 0 Comentários


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domingo, 21 de novembro de 2004




>>> it don't mean a thing if it ain't got that swing



Django Reinhardt

hoje o dia começou com Minor Swing. com o sol claro a manhã a entrar pela janela, a alegria amena dos contrastes suaves das horas mais limpas do dia. acordei sabendo o que tinha a fazer: há discos que nos chamam, quando sabem que é o seu tempo certo. Django chamou-me e inundou o quarto todo. impossível escapar a esta boa disposição. de imediato, às primeiras notas, estou outra vez em Lost Heaven, com Tommy dentro do carro, a fugir pela vida. em manhãs assim, percebo mais uma ou duas coisas sobre o ritmo, aprendo mais qualquer coisa sobre o swing.


posted by saturnine | 16:56 | 0 Comentários


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sábado, 20 de novembro de 2004




>>> to make much of time




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//welcome to the intermission_^.*~~;\¨~


silence, et puis. * o sossego, por fim. duros foram os meses deste sol diminuto, longas as noites cercadas de angústia. Sísifo rondava a casa, o sono perturbado pelo som das pedras a desgastar o tempo. agora, acabou. não mais atravessarei os dias apressada, não mais mais entrarei nas noites assombrada, não mais farei do outono os árduos caminhos do medo. acabaram-se as horas de reclusão, acabaram-se as tarefas inadiáveis, acabaram-se os monstros tenebrosos das coisas por fazer. tudo repousa, como massa de pão. o dia, agora, é meu. não mais andarei com pressa pelo meio das árvores nem esquecerei de prestar atenção ao som dos meus próprios passos. andarei vagarosa pela serra e absorverei todos os cheiros do inverno vindouro. o dia amanheceu claro, e eu respiro a felicidade das mãos frias e dos cachecóis coloridos. esta noite, o meu peito permaneceu desabitado. é com alívio que regresso dos subterrâneos.




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* Marguerite Duras

posted by saturnine | 11:34 | 0 Comentários


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>>> I wish this would be your colour *


onde a noite coincide com a matéria táctil do sono e do silêncio, a polpa viva do sangue borbulha e ferve.



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* Einstürzende Neubauten

posted by saturnine | 11:22 | 0 Comentários


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>>> rouge est la couleur du sang *


(veia, artéria
líquido, fluído
massa, tecido
sangue, ferida
útero, silêncio)


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vem comigo
até aos últimos lugares do sono

vamos escutar
a noite no arvoredo

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* Louise Bourgeois





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quinta-feira, 18 de novembro de 2004




>>> il faut se motiver


há certas coisas que me proporcionam um breve mas incomparável prazer. saborear as palavras que foram feitas para que brincássemos com elas. entre as coisas que mais gosto, mon vélo.

posted by saturnine | 22:46 | 0 Comentários


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Motivés, motivés!


ora vamos lá a abrir as janelas e deixar entrar o ar. vamos lá ao ritual da dança e do riso. Il faut rester motivé.



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Spécialement dédicacé à tous ceux qui sont motivés
Spécialement dédicacé à tous ceux qui ont résisté, par le passé



Ami entends-tu le vol noir des corbeaux sur nos plaines
Ami entends-tu les cris sourds du pays qu'on enchaîne
Ohé, partisans ouvriers et paysans c'est l'alarme
Ce soir l'ennemi connaîtra le prix du sang et des larmes


Motivés, motivés
Il faut rester motivés!

Motivés, motivés
Il faut se motiver!
Motivés, motivés
Soyons motivés!
Motivés, motivés
Motivés, motivés!
*


C'est nous qui brisons les barreaux des prisons pour nos frères
La haine à nos trousses et la faim qui nous pousse, la misère
Il est des pays où les gens au creux des lits font des rêves
Chantez compagnons, dans la nuit la liberté vous écoute

*

Ici chacun sait ce qu'il veut, ce qu'il fait quand il passe
Ami si tu tombes un ami sort de l'ombre à ta place
Ohé, partisans ouvriers et paysans c'est l'alarme
Ce soir l'ennemi connaîtra le prix du sang et des larmes

*

On va rester motivés pour le face à face
On va rester motivés quand on les aura en face
On va rester motivés, on veut que ça se sache
On va rester motivés...

*

On va rester motivés pour le face à face
On va rester motivés quand on les aura en face
On va rester motivés, on veut que ça se sache
On va rester motivés pour la lutte des classes
On va rester motivés
On va rester motivés
On va rester motivés
On va rester motivés contre les dégueulasses

posted by saturnine | 20:19 | 0 Comentários


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quarta-feira, 17 de novembro de 2004




//but i'm aching at the view



>>> (i'll be your mirror)





>>> ( — so much)







>>> yes I'm breaking at the scenes just like you

posted by saturnine | 23:36 | 0 Comentários


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>>> consequência



Na terra gostas de te deitar.
Um dia saberás quanto isso custa.



António Osório | Barca do Mundo I
lido aqui.

posted by saturnine | 22:10 | 0 Comentários


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>>> nos últimos lugares do medo


quando a noite se avoluma
e o frio te toma pelos pés desprotegidos
o medo - ou o cansaço - sobrevém


escuta a terra na montanha
onde o silêncio pesa

acreditas que as árvores
se comovem com os teus passos?

posted by saturnine | 21:59 | 0 Comentários


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So put away that meat you're selling


não adianta. nenhuma palavra, ou gesto, poderá agora sanar o mal que impregna esta distância. há feridas cujas profundezas eu própria desconheço.

posted by saturnine | 21:50 | 0 Comentários


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Take the plan, spin it sideways


ou como quem diz, traço um plano brilhante para a minha vida, estabeleço objectivos e modos de acção, sei o que quero e a forma de o conseguir. e depois, faço tudo ao contrário.





ou como quem diz, pegar no prego, fazer uma excelente pontaria, e depois dar com o martelo no dedo.

posted by saturnine | 20:44 | 0 Comentários


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terça-feira, 16 de novembro de 2004




>>> I can see clearly now the rain is gone



Missouri's Green Ribbon Sky
© Astronomy Picture of the Day



some days are better than others (U2).

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domingo, 14 de novembro de 2004




//espanta-espíritos


Silence is Sexy
Einstürzende Neubauten



all the molecules. every single one. the atoms their spin their charge their charm. all and every one. in circles. in beauty.


a substância deste disco é mais densa do que a massa negra das noites insones. os sons aflitos são redentores — guturais e orgânicos — assim como um reencontro com a terra, com a própria matéria mais humana — o sangue. acordar depois na manhã renovada, para uma clara tranquilidade. silence is sexy.

posted by saturnine | 14:14 | 0 Comentários


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//point of breakdown


nos últimos lugares do cansaço, há um assombro sem nome.

posted by saturnine | 04:01 | 0 Comentários


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húmus


por vezes, no que na noite há de comum com a fértil decomposição da matéria, a morte é um lugar mais próximo.

posted by saturnine | 03:56 | 0 Comentários


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>>> and miles to go before I sleep #3


na maioria das vezes não sei que ofício é este, de guardar os males incontáveis dentro de ânforas perfumadas, de estreitas bocas vermelhas, num gesto de reverente coleccionismo. mas os males são coisas por que nutrimos o maior dos afectos, e eles sabem-no. mas afinal de contas, nada resolve o estar aqui, e o colosso que é a noite abissal implacável como um castigo. nada resolve esta tensa contenção e o facto de que não há consolo algum para o estar aqui. assim, tão despreparada para o que há-de vir, se ainda pele não houve que assentasse sobre a carne viva.



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All the perfect drugs and superheroes
wouldn't be enough to bring me up to zero

Aimee Mann

posted by saturnine | 03:29 | 0 Comentários


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Down, Down, DOWN

>>> would the fall never come to an end?   *


a noite arde numa claridade subterrânea, o som dos meus passos atravessa-a com um ritmo certo, de pancada forte na terra. não me atrevo a um movimento. qualquer coisa que excite a fragilidade do silêncio. por todo o lado, tudo dói. sou eu ou é o mundo, cheio de bolhas?




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* Alice in Wonderland

posted by saturnine | 03:06 | 0 Comentários


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sábado, 13 de novembro de 2004




he disappeared into complete silence


numa luta corpo a corpo, a matéria vence sempre. conquista-nos por dela fazermos o que queremos. nunca é um diálogo pacífico o da pedra, do barro, do sangue, do húmus, com a mão. o que da matéria extraímos é o que em nós que se esvazia. é possível amar assim um objecto até à sua morte, até ao silêncio último no gume do cansaço. nas profundezas, os tecidos borbulham em fluídos preciosos — mas à superfície, há só um mudo torpor de terra devastada.

posted by saturnine | 22:14 | 0 Comentários


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November




So i'm waiting for this test to end
So these lighter days can soon begin
I'll be alone but maybe more carefree
Like a kite that floats so effortlessly

I was afraid to be alone
Now i'm scared thats how i'd like to be
All these faces none the same
How can there be so many personalities
So many lifeless empty hands
So many hearts in great demand
And now my sorrow seems so far away
Until i'm taken by these bolts of pain
But i turn them off and tuck them away
till these rainy days that make them stay

And then i'll cry so hard to these sad songs
And the words still ring, once here now gone
And they echo through my head everyday
And i dont think they'll ever go away
Just like thinking of your childhood home
But we can't go back we're on our own

Oh
But i'm about to give this one more shot
And find it in myself
Ill find it in myself
So were speeding towards that time of year
To the day that marks you're not here

And i think i'll want to be alone
So please understand that i dont answer the phone

I'll just sit and stare at my deep blue walls
Until i can see nothing at all
Only particles some fast some slow
All my eyes can see is all i know

Oh
But i'm about to give this one more shot
And find it in myself
I'll find it in myself



November | Azure Ray


posted by saturnine | 21:54 | 0 Comentários


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minotauro #5


«Ela vivia de um estreitamento no peito: a vida.»

Uma aprendizagem ou o livros dos prazeres
Clarice Lispector



onde as paredes internas se confrangem, o tecido frágil colapsa, e um silêncio uterino avoluma-se — como a noite coagulada de horas impossíveis.

posted by saturnine | 01:17 | 0 Comentários


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retalhos & recortes #18


#
É tão vasta a noite na montanha. Tão despovoada.

#
O silêncio é a profunda noite secreta do mundo. (...) Há uma maçonaria do silêncio que consiste em não falar dele e adorá-lo sem palavras.

#
Viver na orla da morte e das estrelas é vibração mais tensa do que as veias podem suportar. (...) Pois nós não fomos feitos senão para o pequeno silêncio, não para o silêncio astral.

Uma aprendizagem ou o livros dos prazeres
Clarice Lispector


posted by saturnine | 01:09 | 0 Comentários


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sexta-feira, 12 de novembro de 2004




minotauro #4


«Existe um ser que mora dentro de mim como se fosse casa dele, e é.»

Uma aprendizagem ou o livros dos prazeres
Clarice Lispector


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quinta-feira, 11 de novembro de 2004




>>> before the day is done



recado   >>>ouve

ouve-me
que o dia te seja limpo e
a cada esquina de luz possas recolher
alimento suficiente para a tua morte
(...)



Al Berto

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para ti.

posted by saturnine | 23:02 | 0 Comentários


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>>> and miles to go before I sleep #2




Brad Mehldau | Live in Tokyo


é um disco assombroso, não há muitas palavras para ele, nem eu as quero. e mesmo isto é já um excesso que não pude conter, depois disto.
a verdade é que desde que este disco me veio parar às mãos - e foi preciso só um segundo para saber que tinha que ser meu - nunca mais dormi descansada. não, minto. primeiro porque, bem vistas as coisas, eu nunca dormi descansada. segundo porque, bem vistas as coisas, eu passei é a dormir melhor. Things Behind the Sun traz-me à memória Nick Drake, e a pessoa que me trouxe a mim o Nick Drake. por causa deste disco, Things Behind the Sun é agora prenúncio de uma noite sem fantasmas. acontece-me sempre sonhar com ele, que de fugida foi ao carro buscar o CD que eu nunca tinha ouvido e que se tornou a minha cartografia das noites longas. espantosamente, essas são noites cheias de sol. os únicos interstícios viáveis para a ternura.



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quarta-feira, 10 de novembro de 2004




>>> and miles to go before I sleep

a desvantagem de viver de malas feitas e coração nas mãos, sempre em véspera de partidas e regressos, é que me apetecem sempre as coisas que estão longe, e as que ficaram para trás. há quatro dias que pensava cumprir um ritual: iria chegar a casa e ouviria Forget Her antes de qualquer outra coisa. Tell yourself over and over you won't ever need her again.

posted by saturnine | 21:25 | 0 Comentários


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bad trips #2

a perda e a falta são pouco mais que matéria poética, nunca o suficiente para afligir. aquilo que não engulo é a mentira fajarda, que me há-de causar úlceras e outros males de acidez visceral.

posted by saturnine | 20:54 | 0 Comentários


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after dark

o arvoredo sussurra. por todo o lado cheira a castanhas assadas.

posted by saturnine | 20:38 | 0 Comentários


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>> a real force of nature





© www.garfield.com

posted by saturnine | 20:35 | 0 Comentários


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domingo, 7 de novembro de 2004




post para depois


eu vou só ali ver o arvoredo e já volto.

posted by saturnine | 18:52 | 0 Comentários


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sábado, 6 de novembro de 2004




"i really can't stand being alone all the time"  *



























Forget Her

While this town is busy sleeping,
All the noise has died away.
I walk the streets to stop my weeping,
'Cause she'll never change her ways.
Don't fool yourself, she was heartache from the moment that you met her.
My heart feels so still as I try to find the will to forget her, somehow.

Oh I think I've forgotten her now.
Her love is a rose, pale and dying.
Dropping her petals in land unknown
All full of wine, the world before her, was sober with no place to go.
Don't fool yourself, she was heartache from the moment that you met her.
My heart is frozen still as I try to find the will to forget her, somehow.
She's somewhere out there now.


Well my tears falling down as I try to forget,
Her love was a joke from day that we met.
All of the words, all of her men,
all of my pain when I think back to when.
Remember her hair as it shone in the sun,
the smell of the bed when I knew what she'd done.
Tell yourself over and over you won't ever need her again.
But don't fool yourself,
she was heartache from the moment that you met her.
My heart is frozen still as I try to find the will to forget her, somehow.
She's out there somewhere now.
Oh She was heartache from the day that I first met her.
My heart is frozen still as I try to find the will to forget you, somehow.
Cause I know you're somewhere out there right now.





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* Jeff Buckley, on being part of a band.


posted by saturnine | 22:55 | 0 Comentários


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point of no return


foi precisamente há 5 anos, quando no Lais de Guia um homem de negro se voltou e olhou para mim, quando eu tinha ainda medo de tudo. era sábado e esteve sol. Siouxsie & The Banshees tocou o dia todo. eu não sabia ainda que a noite é uma espécie de deserto, e que naquele mesmo momento, para conhecer de perto os escorpiões, teria que abandonar a minha vida.

posted by saturnine | 11:50 | 0 Comentários


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All That Jazz


sinceramente irritam-me a generalidade das coisas mesquinhas e pequenas. há coisas com que, pura e simplesmente, não me importo. i just can't be bothered. a burocracia é a mais aguda forma de tortura. na melhor das hipóteses, há formas normalizadas de se fazer o que se gosta. não me interessam para nada os pequenos detalhes, a consideração por quem não conheço, a delicadeza para com quem não suporto, a tolerância para com o mau gosto. nasci com uma pedra no sapato, um mau humor nato que não disfarço. tenho muito pouca (ou nenhuma) paciência para o que não me interessa. dizem-me que sou deselegante e inconveniente. definitivamente, habito um mundo que não foi feito à minha medida. eu deveria era viver no meio das árvores e dos bichos. aquilo de que eu gosto é de ser eu. da liberdade que tenho para ser eu e mandar tudo às urtigas. because i'm mean and i love everything about it.


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I'm no one's wife
But, oh I love my life
And all that jazz!

posted by saturnine | 01:18 | 0 Comentários


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quinta-feira, 4 de novembro de 2004





NGC 7023: The Iris Nebula
© Astronomy Picture of the Day



Like delicate cosmic petals, these clouds of interstellar dust and gas have blossomed 1,300 light-years away in the fertile star fields of the constellation Cepheus.

posted by saturnine | 22:10 | 0 Comentários


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antes ser mal entendida





geralmente não gosto de explicar aquilo que faço. sempre me assustou a literalidade e o poder esmagador da palavra pronunciada. uma palavra pode destruir a substância incerta de uma coisa, que amamos por desconhecê-la, pode transormá-la noutra coisa qualquer - que não estava na sua natureza ser. aquilo que se diz, transforma o destino das coisas que criamos. o erro e o equívoco são, contudo, os nossos maiores aliados. é uma questão complicada. é possível que me ocorra o sono, o útero, o casulo, a ânfora, o interior e o interno, o sangue e o caminho líquido das partículas invisíveis, mas o fio condutor que lhes atribui sentido só no silêncio contemplativo pode ser encontrado. tudo o resto, é já cansaço meu, vestígios de ligações umbilicais que doem e raramente saram.

posted by saturnine | 20:59 | 0 Comentários


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a day like today



Azure Ray | November


Explosions in the sky | The Earth is not a cold dead place


há explosões no céu e um raio de azul a rasgar o poente. quanta violência no silêncio longínquo do firmamento, quanta melancolia no som das coisas simples.

posted by saturnine | 20:32 | 0 Comentários


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Hotel California

dizem que a Janela fechou as persianas. julgam eles que um blog pode morrer assim. julgam eles. não sabem que um blog (especialmente um como aquele) é como o Hotel California:


'You can check out any time you like
But you can never leave'

posted by saturnine | 11:48 | 0 Comentários


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same old, same old

afinal temos todos histórias parecidas. agasalhamos os pormenores, resguardamo-nos assim do frio e da vergonha, até que alguém ruboriza mas se lança no voo verbal: e diz o que estava silenciado. os nossos relatos são todos, de alguma forma, semelhantes. as marcas da perda ou os caminhos do medo, todos eles encontram a noite algures no mesmo lugar.

posted by saturnine | 01:32 | 0 Comentários


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Hallo Spaceboy



Spaceboy, you're sleepy now
Your silhouette is so stationary
You're released but your custody calls
And I want to be free
Don't you want to be free
Do you like girls or boys
It's confusing these days
But Moondust will cover you
Cover you


This chaos is killing me




(So bye bye love)



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or the problems of the future, today.

posted by saturnine | 01:21 | 0 Comentários


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do deslumbramento puro


«Às vezes parece que as árvores têm braços ou que as nuvens têm gente.

(...)

Mas, lá em baixo, como aqui em cima e muito longe, nunca compreenderemos nada. Nunca nos chamaremos como as baleias se chamam, e elas nem sequer se chamam baleias.»

lido aqui.



____________________________________
nunca compreenderemos nada
nunca compreenderemos nada

   nunca compreenderemos nada
      Nunca nos chamaremos como as baleias se chamam
      Nunca nos chamaremos como as baleias se chamam
      Nunca nos chamaremos como as baleias se chamam

      Nunca nos chamaremos como as baleias se chamam

Nunca nos chamaremos como as baleias se chamam


(para não esquecer)

posted by saturnine | 01:02 | 0 Comentários


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quarta-feira, 3 de novembro de 2004




outside

quando estou lá fora, não me lembro desta vida cristalizada nas palavras.

posted by saturnine | 23:52 | 0 Comentários


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segunda-feira, 1 de novembro de 2004




it's not going to stop
(so just give up)


choveu primorosamente toda a semana. o vendaval é um dos sinónimos do medo. mas porque entramos no mês do escorpião, há de novo o sol. a minha rua encheu-se de folhas vermelhas. a cada sete dias o meu corpo regressa às cinzas. todos temos uma voz subterrânea. vivo agora de malas feitas e de coração nas mãos, não vá precipitar-se o dia de partir. já sinto o incómodo das mãos frias e o tempo volta a assegurar-me a primazia da desordem. uma parte de mim ama o caos. uma parte de mim é uma pessoa melhor do que ontem. já quase esqueci o teu rosto, só em sonhos me assombras. dizes-me da falta que, no fundo, não sentes. entrámos no reino da noite longa, e eu faço-lhe reverência no interior da casa - onde há um canto escuro, como se sabe, que tudo sabe. a música acabou, todos os sons estão infestados de demónios. Aimee Mann sobrevive. afinal, todos temos uma ferida que nunca há-de sarar. há muito mais coisas na vida do que o simples quotidiano dos afectos. só alguns filmes revelam a sua substância mais íntima. vivo desses pequenos nadas. agora que compreendo o abismo silencioso do arvoredo, estou mais próxima das coisas que doem, e mais próxima das coisas que vivem. o monólito é o outro sinónimo do medo. nas profundezas, há coisas maravilhosas e desconhecidas. por isso avançamos pela polpa negra das horas tardias. o que resta da música sustem-me. acabaram-se demasiado depressa os girassóis, as tardes quentes e os teus abraços. pela primeira vez, sou feliz à chegada do outono. mas pela primeira vez, a terra apanha-me a tempo. ainda que afeita ao avesso das coisas. há coisas sobre as quais não falamos. há magia por todo o lado, como nas histórias de crianças: há sempre aquele cujo nome não pronunciamos. coisas desfeitas, memórias desagregadas. face ao drama dos equívocos, mais vale voltarmo-nos para o firmamento, para o assombro da mais inexorável incompreensão. mas tu, não te enganes: nem todos os fantasmas têm o teu nome. há demasiadas coisas que as palavras não alcançam.


posted by saturnine | 23:53 | 0 Comentários


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spot player special




"us people are just poems"
[ani difranco]


*

calamity.spot[at]gmail.com



~*. through the looking glass .*~




little black spot | portfolio
Baucis & Philemon | tea for two
os dias do minotauro | against demons
menina tangerina | citrus reticulata deliciosa
the woman who could not live with her faulty heart | work in progress
pale blue dot | sala de exposições
o rosto de deus | fairy tales








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~*. rearview mirror .*~


maio 2003 . junho 2003 . julho 2003 . agosto 2003 . setembro 2003 . outubro 2003 . novembro 2003 . dezembro 2003 . janeiro 2004 . fevereiro 2004 . março 2004 . abril 2004 . maio 2004 . junho 2004 . julho 2004 . agosto 2004 . setembro 2004 . outubro 2004 . novembro 2004 . dezembro 2004 . janeiro 2005 . fevereiro 2005 . março 2005 . abril 2005 . maio 2005 . junho 2005 . julho 2005 . agosto 2005 . setembro 2005 . outubro 2005 . novembro 2005 . dezembro 2005 . janeiro 2006 . fevereiro 2006 . março 2006 . abril 2006 . maio 2006 . junho 2006 . julho 2006 . agosto 2006 . setembro 2006 . outubro 2006 . novembro 2006 . dezembro 2006 . janeiro 2007 . fevereiro 2007 . março 2007 . abril 2007 . maio 2007 . junho 2007 . julho 2007 . agosto 2007 . setembro 2007 . outubro 2007 . novembro 2007 . dezembro 2007 . janeiro 2008 . fevereiro 2008 . março 2008 . abril 2008 . maio 2008 . junho 2008 . julho 2008 . agosto 2008 . setembro 2008 . outubro 2008 . novembro 2008 . dezembro 2008 . janeiro 2009 . fevereiro 2009 . março 2009 . abril 2009 . maio 2009 . junho 2009 . julho 2009 . agosto 2009 . setembro 2009 . outubro 2009 . novembro 2009 . dezembro 2009 . janeiro 2010 . fevereiro 2010 . março 2010 . maio 2010 . junho 2010 . julho 2010 . agosto 2010 . outubro 2010 . novembro 2010 . dezembro 2010 . janeiro 2011 . fevereiro 2011 . março 2011 . abril 2011 . maio 2011 . junho 2011 . julho 2011 . agosto 2011 . setembro 2011 . outubro 2011 . janeiro 2012 . fevereiro 2012 . março 2012 . abril 2012 . maio 2012 . junho 2012 . setembro 2012 . novembro 2012 . dezembro 2012 . janeiro 2013 . janeiro 2014 . julho 2015 .


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~*. spying glass .*~


a balada do café triste . ágrafo . albergue dos danados . almanaque de ironias menores . a natureza do mal . animais domésticos . antologia do esquecimento . arquivo fantasma . a rute é estranha . as aranhas . as formigas . as pequenas estruturas do ócio . atelier de domesticação de demónios . atum bisnaga . auto-retrato . avatares de um desejo . baggio geodésico . bananafish . bibliotecário de Babel . bloodbeats . caixa-de-lata . casa de cacela . chafarica iconoclasta . coisa ruim . com a luz acesa . comboio de fantasmas . complicadíssima teia . corpo em excesso de velocidade . daily make-up . detective cantor . dias com árvores . dias felizes . e deus criou a mulher . e.g., i.e. . ein moment bitte . em busca da límpida medida . em escuta . estado civil . glooka . i kant, kant you? . imitation of life . isto é o que hoje é . last breath . livros são papéis pintados com tinta . loose lips sink ships . manuel falcão malzbender . mastiga e deita fora . meditação na pastelaria . menina limão . moro aqui . mundo imaginado . não tenho vida para isto . no meu vaso . no vazio da onda . o amor é um cão do inferno . o leitor sem qualidades . o assobio das árvores . paperback cell . pátio alfacinha . o polvo . o regabofe . o rosto de deus . o silêncio dos livros . os cavaleiros camponeses no ano mil no lago de paladru . os amigos de alex . Paris vs. New York . passeio alegre . pathos na polis . postcard blues . post secret . provas de contacto . respirar o mesmo ar . senhor palomar . she hangs brightly . some variations . tarte de rabanete . tempo dual . there is only 1 alice . tratado de metatísica . triciclo feliz . uma por rolo . um blog sobre kleist . vazio bonito . viajador


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~*. the bell jar .*~



os lugares comuns: against demons . all work and no play . compêndio de vocações inúteis  .  current mood . filosofia e metafísica quotidiana . fruta esquisita menina aflita . inventário crescente de palavras mais-que-perfeitas . miles to go before I sleep . música no coração  .  música para o dia de hoje . o ponto de vista dos demónios . planos para dominar o mundo . this magic moment  .  you came on like a punch in the heart . you must believe in spring


egosfera: a infância . a minha vida dava um post . afirmações identitárias . a troubled cure for a troubled mind . april was the cruellest month . aquele canto escuro que tudo sabe . as coisas que me passam pela cabeça . fruto saturnino (conhecimento do inferno) . gotham style . mafarricar por aí . Mafia . morto amado nunca mais pára de morrer . o exílio e o reino . os diálogos imaginários . os infernos almofadados . RE: de mail . sina de mulher de bandido . the woman who could not live with her faulty heart . um lugar onde pousar a cabeça   .  correio sentimental


scriptorium: (des)considerações sobre arte . a noite . and death shall have no dominion . angularidades . bicho escala-estantes . do frio . do medo . escrever . exercícios . exercícios de anatomia . exercícios de respiração . exercícios de sobrevivência . Ítaca . lunário . mediterrânica . minimal . parágrafos mínimos . poemas . poemas mínimos . substâncias . teses, tratados e outras elocubrações quase científicas  .  um rumor no arvoredo


grandes amores: a thing of beauty is a joy forever . grandes amores . abraços . Afta . árvores . cat powa . colectânea de explicações avulsas da língua portuguesa  .  declaração de amor a um objecto . declaração de amor a uma cidade . desolação magnífica . divas e heróis . down the rabbit hole . drogas duras . drogas leves . esqueletos no armário . filmes . fotografia . geometrias . heart of darkness . ilustraçãoinício . matéria solar . mitologias . o mar . os livros . pintura . poesia . sol nascente . space is the place . the creatures inside my head . Twin Peaks . us people are just poems . verão  .  you're the night, Lilah


do quotidiano: achados imperdíveis . acidentes quotidianos e outros desastres . blogspotting . carpe diem . celebrações . declarações de emergência . diz que é uma espécie de portfolio . férias  .  greves, renúncias e outras rebeliões . isto anda tudo ligado . livro de reclamações . moleskine de viagem . níveis mínimos de suporte de vida . o existencialismo é um humanismo . só estão bem a fazer pouco


nomes: Aimee Mann . Al Berto . Albert Camus . Ana Teresa Pereira  . Bauhaus . Bismarck . Björk . Bond, James Bond . Camille Claudel . Carlos de Oliveira . Corto Maltese . Edvard Munch . Enki Bilal . Fight Club . Fiona Apple . Garfield . Giacometti . Indiana Jones . Jeff Buckley  .  Kavafis . Klimt . Kurt Halsey . Louise Bourgeois . Malcolm Lowry . Manuel de Freitas . Margaret Atwood . Marguerite Duras . Max Payne . Mia Couto . Monty Python . Nick Drake . Patrick Wolf  .  Sophia de Mello Breyner Andresen . Sylvia Plath . Tarantino . The National . Tim Burton


os outros: a natureza do mal . amigos . dedicatórias . em busca da límpida medida . retalhos e recortes



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